Felipe Barbosa

March 5, 2021

A (minha) vida no mercado de TI fora do Brasil

Em 2014 publiquei esse artigo com o meu ponto de vista sobre as oportunidades e desafios para brasileiros no mercado de TI no exterior. Na época recebi muitos comentários de outros profissionais interessados em sair do Brasil e, sete anos depois, volto a comentar alguns aspectos dessa realidade com uma nova perspectiva. Depois de mudanças na minha vida, minha carreira e no mercado de trabalho.

O Brasil também passou por muitas mudanças nesse período. Enquanto hoje eu vejo mais empresas nacionais atrativas e trabalhando em alto nível no mercado de tecnologia (fintech, indie games, e-commerce, etc), a qualidade de vida piorou e todos os problemas sociopolíticos que o país vem passando deixa muitos brasileiros desiludidos e desesperançosos.

Estou há 11 anos fora do Brasil. Nesse período morei - e trabalhei como engenheiro de software - em: Madrid, Espanha (2010-2011); Estocolmo, Suécia (2012-2018) e Vale do Silício, EUA (2018-...). E quando escrevi o primeiro artigo eu não tinha a vivência do mercado americano.

Em 2012 eu fui o primeiro brasileiro a ser contratado pela Spotify na Suécia. Por volta de 2014, 2015 iniciou-se um boom de contratações de brasileiros e quando eu saí de lá em 2018 éramos uns 30 (não sei o número preciso), e o Brasil era o país de onde mais recebíamos currículos. A tendência era nítida.

Quando se fala em mercado de TI fora do Brasil, a primeira coisa que vem a cabeça da maioria das pessoas é a América. Mas nos últimos anos a Europa têm sido um destino muito atrativo e acolhedor para vários brasileiros, e os motivos são vários:

Qualidade de Vida
É importante lembrar que a Europa não é um bloco homogêneo e que cada país tem a sua realidade. Mas de modo geral a qualidade de vida no velho continente tende a ser muito boa. Segurança, saúde e educação pública, gratuitas e de qualidade já são motivos suficientes para atrair brasileiros. E dependendo do destino, algumas vezes até para ganhar menos do que nas maiores cidades do Brasil.

Salários
"Ah, mas os salários nos EUA são muito maiores do que na Europa" - Todo mundo
Na verdade, depende... Em números absolutos, os salários americanos são realmente bem mais altos. Mas há um porém: nos Estados Unidos se paga por tudo, a vida é muito mais cara. Então dependendo do seu estilo de vida e da sua situação familiar, embora em números absolutos o seu salário nos EUA fosse maior, em termos relativos a sua qualidade de vida pode não ser.

Vistos
O processo de vistos para países europeus tende a ser mais simples que o americano. Dependendo do país, algumas barreiras como ter um diploma universitário, ou casamento civil para poder levar seu/sua companheiro(a), podem ser dispensáveis. Também é comum que seu/sua companheiro(a) tenha direito a trabalhar. Diferentemente dos EUA (dependendo do tipo de visto americano).

Desmistificando o trabalho em empresas referência do mercado

Quando se fala das grandes empresas de TI é muito comum até bons profissionais verem um emprego aí como algo inalcançável, ou imaginar que dentro dessas empresas tudo é muito perfeito. Mas na minha experiência, não é bem assim.

É verdade que essas empresas têm:

  • Produtos de sucesso
  • Profissionais que criam as tendências do mercado
  • Investimento em infraestrutura para melhora de produtividade
  • Decisões baseadas em dados e métricas
  • Comida grátis! (antes do COVID-19 😷)
  • São pioneiras em resolver problemas que até então não existiam

Mas elas também têm:

  • Produtos que deram errado
  • Bugs
  • Copy & paste do StackOverflow
  • Gambiarras
  • Código sem testes e sem documentação
  • Releases problemáticas

Então em muitos aspectos elas são empresas como quaisquer outras... E sim, existem pessoas brilhantes e fora da curva, mas a maioria dos que estão ali são pessoas bem "normais".

E também é importante lembrar que costuma-se referir às grandes empresas de tecnologia como um bloco homogêneo, mas se você busca emprego é importante saber que são empresas que diferem muito umas das outras.

As principais diferenças estão em:
  • Modelo de negócio e relacionamento com clientes/usuários e seus dados
  • Relacionamento com funcionários
  • Relacionamento com parceiros e concorrentes - postura predatória vs colaborativa
  • Políticas de acesso à informação
  • Políticas salariais e de benefícios
  • Avaliações e expectativas

Então se você pensa em trabalhar em alguma dessas empresas, eu recomendo conhecer bem as culturas, as práticas de mercado e impacto social de cada uma. Pois dependendo dos seus valores, a dissonância cognitiva pode ser grande e o glamour de trabalhar na empresa X ou Y pode não valer a pena.



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@felipernb