Guilherme Rey

April 15, 2024

Na minha época...

nostalgic.webp


Meu primeiro contato com criação para internet foi em meados de 1998, quando eu tinha 10 anos e meu pai meu levou escondido para um curso que ele estava fazendo aos domingos, na Impacta. O curso era sobre HTML (provavelmente na sua versão 3.2), e eu adorava aprender sobre aquela mágica que fazia coisas aparecerem na tela a partir de um monte de marcações de texto que fazíamos usando um bloco de notas (sim, usávamos o bloco de notas do windows). Me lembro que no último domingo a instrutora pediu para que eu esperasse no banheiro, já que ela poderia se encrencar se o pessoal que emitia os certificados visse uma criança ali, sem matrícula. Foi a partir dali que eu comecei a criar uma certa paixão por criar coisas para internet.

Atualizei meus conhecimentos em HTML me matriculando em outro curso, sobre HTML4, quando tinha 12 anos. Com 13 para 14 (não me lembro bem), estudei Flash MX e Dreamweaver 4, ambos durante as férias escolares. Eu era uma criança um tanto peculiar - meu jeito de curtir as férias era frequentando cursos de tecnologia na Avenida Paulista. Naquela época eu virei aquele personagem que brincamos tanto quando falamos que algo está mal feito, sabe? “Ah, certeza que ele mandou o sobrinho fazer” - era exatamente o que eu fazia. Eu adorava, mas não tinha nenhuma expertise para saber o mínimo necessário para um trabalho profissional. Eu gostava mesmo era de criar meus sites usando o Geocities (da Yahoo!), Hpg.com.br, Zip.net, Blogger, etc. Eu tive um sobre Harry Potter, outro sobre Senhor dos Anéis, um blog com piadas avulsas (o nome era Suvaco de Cobra), ou seja, assuntos que eu gostava e que me fizeram aprender algumas ferramentas que eram muito usadas na época. Eu tinha alguns livros da Editora Érica, que comprava junto com um amigo (outro nerd), na Bienal do livro. Eram sobre HTML4, DHTML (Dynamic HTML), Javascript e tinha até um que se chamava “Criando jogos usando Flash MX” - hoje acho que seria uma relíquia. Pois é, flash já foi tecnologia de ponta, quase todos os sites impactantes o utilizavam para poder dar uma experiência diferente para os usuários.

Depois dessa minha experiência pessoal como criança e adolescente, eu escolhei fazer Ciência da Computação. Um curso que me aprofundaria no mundo dos algoritmos e da solução de problemas usando ferramentas computacionais. Como você pode imaginar, durante os meus anos de faculdade aprendi muito mais e vi muitas tecnologias irem e virem. Vivi para ver a Microsoft criar a Suite Expression Blend, que trazia o Silverlight, concorrente do Flash (curiosidade: a Netflix usava Silverlight para o seu player de video até 2013/14), ferramenta que eu usei para criar alguns projetos durante a faculdade - um dos mais legais foi em Cálculo 3, um simulador da curva Tautócrona (se você não conhece nada sobre isso, dá uma olhada!). Apesar de eu ter feito alguns estágios bem interessantes (eu penso em escrever uma newsletter sobre isso), pode-se dizer que comecei minha carreira em 2011, focando em desenvolvimento de aplicações web. Desde então tenho visto essa área evoluir de uma maneira difícil até de acompanhar - confesso que não sei fazer CSS como sabia no começo de carreira, hoje acabo usando alguma ferramenta de I.A. ou um amigo meu que é expert em front-end. Vi o nascimento do jQuery, do jQuery UI, do Twitter Bootstrap, do node.js, do Typescript, do ASP.NET MVC, do Spring Boot, do Google Chrome, etc e até o falecimento do Internet Explorer! Estudei e usei todas essas ferramentas enquanto solucionava problemas de todos os tipos, desde otimização logística até construção de um clube de assinaturas de produtos cosméticos. A minha jornada até agora foi de muita mudança e aprendizado, enfrentando problemas de diversos tipos.
Nós temos um nome para isso: experiência.

Todos sabemos a importância da experiência. Não é a toa que em todos os jogos de RPG você precisa adquirir experiência para poder evoluir seu personagem, fazendo uma alusão ao mundo real. Mas, algumas vezes, ela pode ser controversa. Já perdi a conta de quantas discussões vi no X (antigo twitter) sobre senioridade vs experiência, por exemplo. Na ciência a experiência é usada como base fundamental para a construção do novo (pelo menos deveria), algo que vejo na prática na ciência da computação. Dificilmente você verá pessoas que trabalham com a parte técnica da construção de software se apegando à experiência para argumentar sobre algo. Existem casos em que acontece, eu mesmo já fiz, mas vi muito mais as pessoas buscando novos meios e tentando criar um paralelo com as maneiras que as coisas funcionavam pelas suas experiências do que o contrário.

Mas infelizmente não são todas as áreas que fazem uso da experiência dessa maneira. O que mais vemos por ai são frases como “Faço isso desde XXXX, sempre funcionou” ou “Na minha época era bem melhor, não existia esse problema…”, etc. Talvez um dos maiores problemas da experiência é saber como traçar um limite pra evitar que ela vire um problema. A coisa piora quando pensamos em lideranças. Como fazer para lidar com a diversidade de experiências que estão contidas em um time? Além da sua experiência, você precisa garantir que todas as outras tenham seus espaços respeitados e ouvidos. Infelizmente não existe uma fórmula que nos ajude a traçar o limite entre ficar na zona de conforto da experiência e buscar novas maneiras de lidar com as coisas. Mas me parece que, como tudo na vida, precisamos fazer isso tender ao equilíbrio. É importante estar na zona de conforto da experiência, porque isso dá segurança não só para você mas para quem estiver ao seu lado, ao mesmo tempo em que estamos alertas para o novo, fazendo com que a experiência não vire um problema, mas sim uma ajuda no caminha da solução. Nenhuma experiência, não importa de quem seja ou de quanto tempo, garante sozinha que algo funcionará.

Por isso vamos buscar sempre usar frases como “Da minha experiência, se seguirmos o caminho X, podemos chegar no resultado Y, provavelmente”. No fim, tudo é uma probabilidade. Nós sabemos que a probabilidade de obtermos Y dado que sabemos X é maior do que se não soubéssemos X. Mas vou deixar o teorema de Bayes para outra newsletter, a intenção desta publicação é provocar o pensamento: o que você faz para garantir que a sua experiência esteja, na maioria das vezes, sendo solução e não problema?


Até a próxima!

About Guilherme Rey

Empreendedor, Professor e Cientista da Computação. Gosta de falar sobre tecnologia, pessoas e negócios.