Muito do cansaço dos que os profissionais de TI sentem, em especial aqueles que criam e desenvolvem algo a partir de uma ideia abstrata, vem de um simples motivo: muitos projetos se iniciam sem saber ao certo o que se quer obter. Ninguém fala muito sobre isso.
Claro, talvez o que eu vou escrever não seja para você. Neste caso, fique tranquilo.
Claro, talvez o que eu vou escrever não seja para você. Neste caso, fique tranquilo.
How many projects have you been a part of that you’d want to do over? How many projects have gone long, piled up at the end, and burned people out? How many projects were essentially collections of unreasonable expectations? -- Jason Fried(Foreword on Shape Up book)
Quando se inicia algo sem saber ao certo o que se quer, coloca-se muita gente em uma situação de ansiedade e stress desnecessárias. Alguns se sentem incompetentes e ansiosos com o futuro, por não estar conseguindo entender o objetivo informado. Outros, se sentem estressados, por trabalhar e nunca ver o final do projeto. Alguns "sortudos" se sentem ansiosos e estressados, porque não sabem onde aquilo vai dar, sendo que ao mesmo tempo são levados diariamente para reuniões intermináveis sobre partes do projeto que parecem não ter sido entendidas direito e que dificilmente serão conectadas. Entre questionar e não ser compreendido, segue-se o fluxo. Ao final, sobra pouco tempo no dia para trabalhar.
Discute-se muito e chega-se em poucas conclusões.
Surgem questões na mente: Será que é muito trabalho? Será que tem muita gente envolvida? Será que entendemos mesmo o que o cliente ou certa área da empresa precisa?
A dúvida geralmente fica apenas na mente.
Seguem-se as daily meentings rigorosamente, mesmo que não tenhamos nada para atualizar ou tantas dúvidas que nem caberiam na daily. Alguns repetem sempre a mesma coisa(melhor mostrar que estou tentando algo), outros mantém uma discrição digna de um ninja em combate(melhor me esconder e ganhar tempo para entender).
Mantem-se a fase de discovery para tentar entender o era pra ser feito. O relóginho do deadline continua rodando, pois, já foi dado o prazo em algo que não se sabe bem o que é, mas que deve ser entregue, no prazo.
Continuam as Sprints, embora jogando os cards sempre para os próximos que virão. Seria um Scrumfall ou seria uma espécie espiral de "largados e pelados" digital?
Alguns mais preocupados esticam mais que 8h, invadem a noite para tentar salvar suas reputações, salário do mês, projetos falidos ou apenas porque são workaholics e não veem outra coisa melhor para fazer longe do trabalho. Aqueles tem que uma vida além do trabalho constantemente se sentem menos produtivos, menos profissional, pois tem filhos e familiares para cuidar, casa para dar conta e outros afazeres igualmente importantes, por exemplo, dormir.
Em todos estes anos nessa industrial vital, percebo uma boa parcela de profissionais que :
- Tem quase todo dia uma sensação de estar "enxugando gelo". A sensação de não estar desenvolvendo algo realmente útil para o negócio, ou, às vezes de sentir que aquilo poderia ser um pouco mais assertivo.
- Sabe que quem pediu não sabia bem o que queria, mas como se é pago para fazer e executar, não consegue argumentar para ter uma melhor definição de rumo.
- Percebe que o trabalho move-se de Sprint para Sprint até que um dia aconteça uma war room que vai dar um prazo curtíssimo para que aquilo chegue ao fim. Espera-se nunca estar nessa war room.
- Sabe que tem que dar uma estimativa para que o gestor pare de cobrar diariamente um prazo.
- Depois da estimativa dada, são cobrados diariamente para reduzir o prazo que foi informado. Geralmente são cobrados por alguém que não vai colocar a mão na massa. Esse alguém que cobra os prazos também é cobrado por resultados por alguém mais distante ainda do projeto. Ao final, todos estão enganados e equivocados sobre o que realmente está acontecendo.
- O gestor do projeto coleta prazos de quem vai fazer, e normalmente reporta prazos diferentes(menores) para o board. Nem sempre por que ele quer, mas porque o board não aceita o prazo dado, e "sabe" que dá para fazer em menos tempo. "Se brincar, daria para fazer em menos tempo com a metade do time" . Como sabem disso? Não sabemos.
- Às vezes os gestores querem mostrar sua eficiência reduzindo os prazos e apertando o time. Outras vezeS, o time se perdem em tanto detalhes tão cedo que perdem o timing. Bem, muitos caemem rabbit holes. Sabe aquela parte do projeto que é tão confusa que ao invés de ser tirada, é mantida? Esse ponto é clássico para levar um time a ficar lá atolado ad aeternum.
Pessoas quem pensam todas estas dinâmicas nas equipes muitas vezes são rotuladas de "filósofos" ou pessoas que querem "teorizar" ou simplificar demais. Estaríamos estas pessoas quem estudam algo al'me de bits e bytes na área errada?
Alguns são vistos como pessoas que querem tudo "certinho" e não estão ambientadas com a "guerra" dos projetos, como se o ambiente de trabalho fosse um campo de batalha e não um lugar onde se pensa antes de sair fazendo.
Faltam pessoas que pensam em estratégia? Afinal, tirando malhas de jobs, rotinas que duram horas , desenhos maravilhosos e códigos excelentes, alguém alinhou aquilo com alguma estratégia do negócio? Seria tecnologia uma área em que as ideias importantes para uma empresa são perdidas e distribuídas em cada ego node super brilhante da equipe?
Talvez os projetos matem boas ideias e não estamos vendo. Talvez estamos muito ocupados apenas executando.
Se simplificarmos os projetos para algo mais factível a curto prazo, melhorarmos a comunicação na equipe, não perder tempo com reuniões sem pé e nem cabeça e parar de microgerenciar, poderíamos nós gerar mais lucro para o negócio?
Teríamos pessoas mais motivadas por entenderem o seu próprio trabalho? Tudo isso poderia contribuir para se alavancar negócios, manter a empresa lucrativa e reduzir custos desnecessários?
Será que estamos matando a criatividade das pessoas?
Fica uma pergunta: será que faz mal pensar que poderíamos fazer diferente?
"Muitas vezes executar é tudo - tudo de errado" .
|_Júlio César_|