Paulo Pinto

April 12, 2021

L73

Aqui, em L73, os dias tem a mesma duração das noites. Isto é, não se sabe quando acaba o dia e começa a noite. Talvez porque  intensidade da luz seja sempre a mesma, regulada por um reóstato avariado que está sempre na posição intermédia. Digo posição intermédia, pois quando giro o botão para baixo e depois para cima, a intensidade da luz é sempre a mesma, o que me leva a pensar que terá avariado a meio. Mas, mesmo assim, a luz é suficiente para que eu possa ler os livros que trouxe da Terra, quando não há mensagens para enviar.

Quando soube que seria destacado para Lagrange L73, preparei uma caixa com livros para trazer comigo. Disseram-me que a caixa não poderia ter mais do que 25x20x12cm, o que permitiu trazer 3 livros. Tive de os escolher meticulosamente. No início, estava com dúvidas se deveria trazer, ou não, livros de auto-ajuda, pois não sabia o que me esperaria aqui. Por outro lado, pensei, um livro de auto-ajuda não me vai servir de nada se a auto-ajuda não me servir de nada. Escolher 3 livros de uma biblioteca que acumulara cerca de 7500 títulos em 5 anos não foi tarefa fácil. E se tivesse dificuldades em adormecer? Necessitaria eu de um livro que me ajudasse a adormecer? Como seria a minha experiência aqui? O que poderia eu esperar de um cargo num posto avançado de rádio num sistema solar completamente diferente do meu ambiente natural?

Será esta minha experiência em L73 uma coisa supostamente divertida que nunca mais vou fazer? Decidi-me por um livro de David Foster Wallace, outro de Thomas Pynchon e, finalmente, um terceiro de William T. Vollmann. Por ordem:

1 - Uma coisa supostamente divertida que nunca mais vou fazer, DFW
2 - Arco-Íris da Gravidade, Thomas Pynchon
3 - Vós, Elevados e Luminosos Anjos, William T. Vollmann

Não havendo nenhuma mensagem importante nas próximas horas, começarei por ler DFW. Estou, inevitavelmente, extremamente ansioso e expectante.